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Foto do escritorOrlando Coutinho

O Mito de Sísifo


O ano de 2020 tem sido tipicamente absurdo. Aliás como o descrevera Camus neste pequeno livro que aconselho leitura, sendo a edição cá de casa de 2016, feita pelos “Livros do Brasil”; diz o filósofo na página 21 «O sentimento do absurdo pode esbofetear qualquer homem, à esquina de qualquer rua». E de facto, estávamos longe de imaginar que passaríamos boa parte do ano em isolamento, em “profilaxia”, em reserva absurda, se quiserem. Na verdade, o autor tira do “jogo do absurdo” várias conclusões, sendo que na página 61 sugere: «Tiro assim do absurdo três consequências, que são a minha revolta, a minha liberdade e a minha paixão. Pelo jogo da consciência, transformo em regra de vida o que era o convite à morte - e recuso o suicídio».

A verdade é que os dias de confinamento imposto geraram imensa preocupação, não só com a saúde, mas também com o futuro; parece que a esperança foi ao ar! É aí que um circunspeto Camus alenta, na página 85, ao propor: «Estar privado de esperança, não é desesperar. As chamas da terra valem bem os perfumes celestes».

De facto, estar por casa – além de permitir, ainda que a espaços cortados, pôr a leitura em dia – deve fazer-nos pensar se, a exemplo de Sísifo e no pós-pandemia, devemos repetir-nos ou encontrar novos modelos que aligeirem o absurdo.

Bem Vistas as Coisas, em ano de absurdo, valha-nos a leitura!

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