Um autor consagrado com apenas 25 anos de vida merece ser lido.
Este livro com edição de Fernando Cabral Martins e publicação da Assírio e Alvim, reúne – como indica o subtítulo – o essencial (dela de extrai, por exemplo, a escrita para teatro) da obra poética e narrativa de Mário de Sá Carneiro.
As multíplices influências literárias estão conectadas pelos lugares onde esteve e pelas pessoas com quem acabou por interagir; daí que não seja estranho que de França, onde viveu uns anos, tenha extraído um certo “decadentismo” e a Pessoa tenha ido buscar, por exemplo, o futurismo.
O seu veio existencialista empurrou-o para uma tentativa de explicação e junção de nexo e causalidade pela escrita. E se é certo que daí colhemos, sobretudo, uma excelente coletânea poética, a verdade é que – o Homem em si mesmo – não se bastou às interrogações que procurou responder, tendo eclodido no extemporâneo desfecho conhecido.
Na página vinte e sete do volume, tem um poema datado de 5 de maio de 1913, feito em Paris, que para mim é um dos prediletos e reza assim:
Estátua Falsa
Só de ouro falso meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minh'alma desceu veladamente.
Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distância.
Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!
Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida no ar...
Bem Vistas as Coisas, a vida de Mário de Sá-Carneiro perdura.
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