O tema deste artigo centra-se nas ancestrais Festas Vimaranenses: as Nicolinas.
E para dizer ao que venho, serei direto: a esquerda local é contra a elevação das Festas Nicolinas a Património Imaterial da Humanidade.
Só isso explica que – pasme-se – tenham inscrito primeiramente no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial a tradição das Passarinhas e dos Sardões das Festas de Santa Luzia, sem que houvesse especial demanda pública para o efeito, antes mesmo das Nicolinas.
Só isso explica que a autarquia precisasse de 11 longos anos para ser consequente desde a primeira iniciativa política em sede de Assembleia Municipal apresentada à época pelo líder parlamentar do PSD – André Coelho Lima – e que, quem lá esteve recordar-se-á, não mereceu unanimidade, já que o Bloco de Esquerda não votou favoravelmente esta pretensão.
Só isso explica que, um dia após o Líder da Coligação Juntos por Guimarães pedir explicações de como estava o processo, o PS tenha apressadamente corrigido a mão dizendo que <<agora é que é, agora é que vamos tratar disso>>.
Depois espantam-se que o Jornal Expresso confunda Nicolinos com “campinos de Natal”? Com tamanha displicência do poder socialista bem podemos atirar à ignorância jornalística, mas há falha grave política quanto à divulgação desta efeméride. E a falta de reação política imediata e enérgica ao mais alto nível é, também ela, um sintoma desta convicção.
Aliás, nas mentes mais apuradas, já todos tínhamos percebido esta animosidade à esquerda com a multisecular tradição etnográfica dos estudantes vimaranenses; mas, muito recentemente – nas redes sociais e blogosfera – enervados com a tentativa de disfarce, deste mau estar, que Domingos Bragança empreendeu, ao colocar em catálogo o que já deveria estar há muito, doutos intelectuais de esquerda, não contiveram as suas glândulas sudoríparas e transpiraram de forma veemente o seu protesto. Só porque, veja-se o pretexto, o Vereador do CDS, Eng.º Monteiro de Castro, não viu energia, não viu vontade, não viu atitude, nos responsáveis municipais para este empreendimento. E também porque, “ousou” questionar o académico, de respeito é certo, que levou a efeito o primeiro estudo sobre a matéria, acerca dos motivos pelos quais só se apontavam fragilidades sem conceder soluções e porque se omitia de forma evidente as potencialidades desta candidatura.
O argumento, que os meus muito estimáveis (e corajosos porque há mais, mas escondidos) Esser Jorge e Casimiro Silva usaram, foi – trocado por miúdos – “como pode um Engenheiro Civil questionar tamanho Antropólogo?”
Pois bem meus caros, a dimensão política em que se coloca a questão em apreço, não só pode - como deve ser dissecada nos fóruns próprios para o efeito. E foi-o. Por um Vereador, independentemente da sua formação de base. Ao negarem esta possibilidade estão a incorrer na velha arrogância tipicamente “sinistra” que contra factos não há argumentos. Ora é exatamente contra os factos que se argumenta, de contrário seria o fim da política enquanto tal. O pensamento único e inargumentável é o fim da democracia, do pluralismo, do multipartidarismo. E não tenho em vós desses precursores.
E quanto aos argumentos por ele expendidos o que dizem V.Exas? <<Bola>> para citar um eminente treinador na dita.
Somente não se pode meter a “foice em seara alheia”. O que para mal dos V. pecados não é assim. O Advogado André Coelho Lima, questionou e bem (em sede própria, na Câmara) a obra do brilhantíssimo Arquiteto Siza Vieira (Parque da Mumadona) porque não tinha acessibilidade para deficientes motores. Que fez o PS? Votou contra a proposta de melhoramento desta acessibilidade. O mesmo “modus operandi”, portanto.
Voltando “à vaca fria” para usar da “diplomacia” em voga, V. Exas ficam-se então pela única premissa: aos Engenheiros o betão, aos Antropólogos a etnologia! Que seria da ciência se nos guiássemos por aqui?! Franz Boas, por exemplo, jamais poderia dar o seu inestimável contributo à “inquestionável” ciência antropológica, já que provinha da Física. E se o Sir Francis Galton, um Antropólogo e lente eminentíssimo à época, não fosse (e foi-o tragicamente tarde para vergonha da humanidade pelas consequências que daí advieram) nunca jamais questionado? Seriamos todos filhos de Gobineau, Chamberlin, Lapouge ou Woltmann?!…
Se nunca se questionasse o método, os sucedâneos de James Frazer continuavam a dizer como ele:<< Estar com as tribos sobre quem disserto? Deus me livre!>>
Ainda bem que tivemos depois Malinowski ou Margaret Mead; e que útil seria esta última se, por aqui tivesse passado, já que as Nicolinas carregam uma marca clara de ritual de passagem à idade adulta com traços de fertilidade. Será exatamente por isto que a esquerda local não simpatiza com as Nicolinas? Por ser uma tradição atávica, viril e identitária? Marcas de que tentam sempre afastar-se na busca de um igualitarismo artificialmente construído, ao jeito do materialismo dialético?
No fundo, meus caros, o que o Eng.º Monteiro de Castro clamou foi que, o estudo vindo do respeitabilíssimo e notabilíssimo Jean-Yves Durand, segue a escola de Evans – Pritchard, ou seja, é mais descritivo do que explicativo o que impede – de modo científico, que se corrijam as falhas, se evidenciem as potencialidades e se avance para bom logro do processo. E é nisso que nos devemos concentrar.
Arregacem lá as mangas, meus senhores, e mãos à obra neste desiderato que não é nosso nem vosso – a exemplo da Capital Verde, embora nesta estejam a começar a casa pelo telhado - mas é de todos os vimaranenses. Engulam o sapo e façam o vosso dever, de contrário, serão corridos ao jeito Nicolino e do título desta crónica: a toque de caixa! E bem podem espernear que é assim mesmo como vos digo.
Se inverterem o caminho e se ligarem à corrente, serei eu o primeiro a convocar a “Potlatch”.
Bem Vistas as Coisas, a esquerda local é contra a elevação das Festas Nicolinas a Património Imaterial da Humanidade. Ou invertem o caminho, ou serão corridos a toque de caixa!