Quando a Engenharia e a Arquitetura sonham pode dizer-se que a obra que Deus quis nasce.
O recurso ao “tomo” pessoano serve para introduzir – como se disso elas precisassem - duas magnificas personagens do mundo musical que a guitarra e a voz uniram, num feliz encontro multicultural, tendo a Lua como narrador omnisciente num bairro que semanticamente é “banho”, neste caso de cultura, personificando o fado como se pode inferir pela epígrafe.
A voz é de Tara Tiba uma iraniana que além da formação musical cursou arquitetura.
A guitarra é de Marta Pereira da Costa. Engenheira lusa que entre os dedos e a alma faz pontes para tantos corações.
A inspiração, porque não dizê-lo, religiosa - é de Rumi um poeta e teólogo Sufi da antiga Pérsia que, na letra da música que vos deixo, nos convoca em redor da ideia de que se estás à procura da verdade, o melhor será olhares para ti próprio. E, sim, quando vamos ao fundo de nós o divino chega; tratem-no pelo nome que seja.
Ambas sonharam irromper por mundos “masculinos”. A primeira com a fatura de deixar a sua terra, porque o trejeito de cantar em público é representação classificada exclusivamente a um género; e que pena, para os compatriotas, não ser o dela!... A segunda pela invulgaridade que é ver cabelos cumpridos, em vez de barbas, ora a massajar cordas, ora a dominar pelo abraço, uma senhora - “mater” do fado - a que chamamos guitarra.
A felicidade dá-se nesta miscigenação cujas palavras são parcas quando resolvemos discorrer sobre o que ouvimos. O melhor é só mesmo o deleite da escuta…
Mas sempre posso dizer, em dia que assinala a reabertura do Bataclan em Paris, que uma atuação destas personagens, naquele local, seria o símbolo do abafo, pela surpresa, do léxico intolerante e regurgitava o prolongamento fraterno de duas culturas que não existem uma sem a outra.
E a cultura é sempre um modo de resistir a um mar que se adivinha turbulento… Que o oceano se sobreponha na acalmia desejada. Esta é a gota, pela lembrança, para a paz.
Bem Vistas as Coisas, há imagens que valem mais do que mil palavras; e há músicas que valem mais do que mil imagens.