A Extrema-direita portuguesa saiu à rua para dar mais uma pálida imagem do seu esvaziamento humano, do seu etnocentrismo e da sua incapacidade de conviver com o que lhe é diferente. Falo a propósito dos migrantes/refugiados que têm visto na Europa o seu porto de abrigo.
Mas não esteve só nesta epopeia neo-fascista de que a espúria ditadura Húngara só lhe deu corpo institucional. A hipocrisia europeia ainda não teve a mesma agilidade política como por exemplo teve na Grécia, dando o sinal errado de que só os € é que contam e os valores ficam para depois.
Salvar quem foge da morte é um dever imperativo. E de nada vale erguer bandeiras anti – aborto e depois querer afogar no mediterrâneo milhares de seres humanos que ademais nos vêem como modelos de evolução civilizacional, independentemente das convicções religiosas que cada um tenha.
A diferença entre a direita democrática e este, permitam-me, esterco, está nas palavras que escutei de Paulo Portas no encerramento da Escola de Quadros do CDS no início do mês, quando diz que << é o humanismo cristão e o humanismo laico que fazem os valores da Europa>> acrescentando que <<o Mediterrâneo é o berço de uma civilização, não pode ser a sepultura de vidas e valores>>
Guterres, por seu turno, chamava à atenção para o facto de serem famílias e não terroristas a calcorrear kms e a nadar – qual Camões com os Lusíadas debaixo do braço – rumo à Europa. Os terroristas apanham aviões e vêm apetrechados de tecnicismo suficiente não precisando de Schengen para cruzar fronteiras.
Está, portanto, na hora de separar o trigo do joio. E não há “assim-assim” quando se falam de vidas humanas. De facto e sendo genuinamente portugueses, temos que saber se nos identificamos com a verdadeira Europa ou sucumbimos a uma “MerKhollandia” que apesar de tudo e neste particular tem dados sinais de querer reativar chama Europeia de Adenauer e Delors.
Afinal o que é isto da identidade europeia?
A identidade é um conceito basilar na edificação do sentido de pertença e que serve antes de mais para congregar a ligação comum entre povos. De facto para que exista um Estado, é necessário que haja um povo, um território e um poder político com autoridade e legitimamente reconhecido. Ora estes são conceitos que não são estranhos à definição de identidade. Mas sendo a Europa um conjunto de povos e Estados, o que há em comum entre todos eles que possa ser designado de identidade europeia? De facto ao longo de todos estes anos de construção europeia, assistimos a um conjunto muito lato de iniciativas que ajudaram a criar uma noção de comunidade alargada, com elos de proximidade muito fortes. São exemplos desta “caminhada” o Acordo de Schengen que abriu uma territorialidade comum; o Euro como elemento de troca e circulação na própria moeda de marcas culturais dos diferentes Estados de molde a aproximar as suas idiossincrasias; o parlamento europeu como órgão de representação política onde os diversos Estados têm assento; estes exemplos mais de cariz institucional. Há contudo outros que têm também importância direta nas ações mais comuns das pessoas: as viagens “low cost” que permitem uma mobilidade inter estadual a custos reduzidos aproximando “modus vivendi” diferentes; a realização anual do evento Capital Europeia da Cultura, que permite a difusão elementos diferenciadores das expressões artísticas dos vários países; o programa televisivo Euronews que contempla a atualidade diária do que se passa nos diferentes Estados e o que se desenrola em Bruxelas; a mobilidade de estudantes pelo Erasmus; mas acima de tudo a identidade europeia está centrada em valores de grande dimensão: liberdade, democracia, paz, estado social, difusão de estruturas supervisionadas pelos Estados no âmbito da saúde e educação, pensões de reforma, complementos solidários e assistência social, no fundo, tudo o que se costuma designar como modelo social europeu é sem sombra de dúvida o elemento mais estruturante da expressão identitária.
O tema das migrações/refugiados é de facto muito complexo e merece reflexão bilateral profunda no quadro europeu e na política internacional em geral. Mas uma coisa é certa, não podemos deitar ao lixo dezenas de anos de construção de uma identidade comum, por força de preconceitos religiosos, ou do umbigo económico, que ademais, já há estudos sobre isso, resolveria em parte “buracos” nos sistemas sociais de vários países, fruto do nosso inverno demográfico.
Bem Vistas as Coisas, a grande vantagem da Europa é exatamente a sua identidade multicultural, multilinguística, alicerçada em bases comuns de tolerância, paz, democracia e desenvolvimento económico, que tem permitido uma “convivencialidade” – onde cabem mais e que não devemos destruir.