Decidi dar-me aos epicuristas prazeres da boa gastronomia, nesta rápida incursão a sul.
O Chef Miguel Laffan brindou-nos com um excelso cardápio capaz de nos catapultar para uma desconhecida galáxia de paladares nunca antes imaginados, sempre coroados de mistério, surpresa, odor e realização.
Depois de umas boas vindas com queijo, azeite e charcutaria da região, lembrando a magnífica qualidade dos produtos Alentejanos, começou a sinfonia de sabores com um prelúdio singular, a saber: uma terrina de foie gras de pato numa geleia de uva fermentada com uma salada de beterraba e maçã verde ecrumble de pain d’épices.
Se a ópera – porque há sempre algo de trágico nos prazeres humanos, neste caso a ‘’fofura’’ física em ascensão- por ali terminasse, já teria valido a pena a passagem por Montemor.
Mas as delícias em forma de peixe e carne continuaram num caleidoscópio gustativo que o meu português é ainda curto para descrever face ao deleite que o meu palato inolvidará. Deixo só a descrição como motivo especulativo: robalo de linha assado sobre uma vichyssoise de mexilhão, alho francês confitado em açafrão de la Mancha, chouriço, alcaparras e zests de limão seguido de um lombo de borrego merino assado, tagine de legumes primaveris, batata-doce de Aljezur e esferificação de iogurte e hortelã.
O epílogo foi inebriante dado o aroma suave e consistente que regurgitou ao primeiro confronto da colher: pastel de chocolate e goma de Nutela, duo de framboesas com gelado de laranja e cardamomo.
O clímax deste pecado, não tão venial como se possa supor, foi mesmo o Delta de Campo Maior, brindado com uma paisagem onde as casas espreitavam do planalto frontal que se nos afigurava diante de nós como que uma televisão natural onde predomina o cromático genuíno daquelas terras - ora dourado, ora verde, ora caiado.
Bem Vistas as Coisas, a música também pode degustar-se numa partitura de porcelana e no L’and Vineyards vi-me tenor deste belo concerto gastronómico.